O livro

Resiliência, Judaísmo e Cultura Organizacional

Este livro é o resultado de um trabalho de pesquisa que proporcionou antes de tudo uma forte realização pessoal, decorrida do que era um sentimento de profunda curiosidade instigante, mas que, ao longo do processo investigativo, permitiu transformar o fascínio, com as descobertas, em concreto material para contribuição com os campos de conhecimentos a respeito de judeus, resiliência e organizações. O reconhecimento da complexidade encerrada nesses temas é proporcional à percepção de quão introdutória é a contribuição fornecida por esse estudo.

A minha experiência com organizações na área de recursos humanos, somada a alguns conhecimentos adquiridos a partir dos estudos que desenvolvi sobre o judaísmo e a participação dos judeus na formação econômica, étnica e cultural do Brasil, mais particularmente em Pernambuco, desencadeou uma série de questões que me levaram à pesquisa.

Por que os judeus, pressionados pelas diásporas, não se diluíram no mundo como grupo étnico-cultural?

Era uma das perguntas que ansiava por respostas. Partindo do geral em direção ao particular, pretendia entender, também:

Como os imigrantes judeus, que formam a atual comunidade do Recife, e suas gerações subseqüentes conseguiram sair das bordas sociais, fundar e se consolidar em organizações empresariais, participando ativamente das instâncias formadoras do Estado? Para responder a essas indagações, foi necessário identificar, numa densa rede de elementos, inter-relações de influência mútua existentes entre:
  • as características básicas da Resiliência identificadas por Conner (foco, flexibilidade, pró-ação, positividade e organização);
     
  • preceitos fundamentais da tradição judaica;
     
  • ritos e cerimônias praticados pelos membros dessa comunidade; fatores apontados como elementos básicos para a continuidade do grupo que se autodenomina judeu.

Com a hipótese levantada de que o fator resiliência estava implícito nas possíveis respostas às duas primeiras perguntas, uma outra estruturou-se:

Até que ponto a resiliência apresentada por essa comunidade está impressa na cultura de uma empresa liderada por alguns de seus membros, atuando como fator de equilíbrio e desenvolvimento frente às mudanças sofridas e implementadas?

Eram muitas as questões. À medida que buscava saber sobre a capacidade de resiliência de um determinado grupo, bem como seus efeitos na esfera individual e na cultura de uma empresa, vislumbrava enfocar a dimensão antropológica da dinâmica catalisadora de um grupo etnicamente diferenciado dentro da maioria em que está inserido.

O livro está dividido em três partes: na primeira, além de uma introdução sobre a importância e ligação entre os temas — resiliência, judaísmo e organizações —, apresentam-se as abordagens teóricas que nortearam a pesquisa e nas quais os meios para análise dos conteúdos em questão se fundamentaram. Nas partes seguintes, à proporção que os assuntos vão sendo trabalhados, gradativamente se estabelece um vínculo entre estes e a teoria.

A segunda parte caracteriza-se pela necessidade de se compreender como as experiências vividas pelos judeus, ao longo da história, intensificaram a capacidade básica da resiliência dessa coletividade, instaurando no imaginário, através da transmissão cultural e relações sociais, elementos alimentadores do comportamento resiliente, ação que teve por objetivo defender o conceito de resiliência judaica. A narrativa se dá em torno de um panorama sobre a trajetória do povo judeu ao longo da história, na qual o enfoque foi dado, objetivando destacar as respostas apresentadas pelo grupo em questão frente às adversidades. Nesse momento, comparam-se as cinco características básicas da resiliência, segundo Conner, com alguns preceitos fundamentais, festividades e fatores de continuidade da coletividade judaica.

Na terceira parte, faz-se necessário, inicialmente, contextualizar a atual comunidade do Recife, o que significa: percorrer as causas que motivaram a migração; a fase de integração e adaptação à nova sociedade receptora, principalmente como está hoje organizada. Em seguida, o estudo de um caso é apresentado, para o qual foi eleita uma pequena empresa familiar, do ramo da Construção Civil, fundada e dirigida por judeus, membros da comunidade recifense e filhos de imigrantes, para identificar relações entre a resiliência judaica e a cultura corporativa. E, finalmente, apresentam-se as últimas considerações a respeito das descobertas.

Com este trabalho, pretendo oferecer passos, ainda que pequenos, que possam contribuir para se pensar a multifacetada subjetividade das culturas das organizações, bem como da resiliência humana, numa perspectiva transdisciplinar, em que a Antropologia, a Psicologia, a História, a Administração e outras áreas afins mesclem-se, gerando o enriquecimento necessário a novas práticas.

Boa leitura!

Izabella Moreira de Lucena